Na esteira de um tempo que parece avançar cada vez mais rápido, em um fluxo de exigências, necessidades e trabalhos cada vez maior, passamos da metade do ano de 2024. Em meio às recentes vitórias contra a extrema-direita na França e na Inglaterra e as incertezas sobre as eleições norte-americanas, seguimos comemorando e tentando, de alguma forma, evitar que retomemos os anos de tormenta que passamos no Brasil.
As leituras por aqui seguem no ritmo de sempre, alguns meses mais intensos que outros, sempre pautadas pelo tempo livre disponível e a ausência dele. Resolvi começar os textos sobre literatura por aqui com uma pequena lista, com as melhores leituras do ano até o momento. Uma oportunidade para revisitar grandes trabalhos e indicar obras que já coloquei a resenha em outros lugares (ou deveria ter colocado, pelo menos).
Essa lista segue ordem cronológica, não de preferência, já que a escolha do que mais gostei entre eles é completamente desnecessária. Então, bora pra ela: A lista das melhores leituras do ano até agora.
Gabriel Garcia Márquez – Ninguém escreve ao coronel
Todo começo de ano um livro do Gabo diferente sendo lido, já virou ritual por aqui. Uma história com o cheiro, o sabor e as cores da América Latina. Acompanhamos aqui a história de um coronel do exército que vive em uma vila afastada com sua esposa após perderem o filho envolvido com conspirações políticas.
O Coronel aguarda semanalmente há anos uma aposentadoria, um soldo pelo tempo de serviço prestado, que chegará pelos correios, enquanto vive uma vida de miséria, privação e destruição da esperança. Cheio de referências aos Buendía, personagens principais de sua obra-prima Cem Anos de Solidão. Ótimo para quem quer conhecer o autor, mas não quer encarar os livros principais logo de cara.
A resenha completa você pode ler aqui:
Truman Capote – A Sangue frio
O “livro-fundador” do estilo de romance de não-ficção (mesmo não sendo de fato). Sempre achei que não curtiria o livro e acreditava até haver um certo hype exagerado sobre ele, mas errei profundamente. Capote conta aqui a história do assassinato, em 1959, de quatro membros da família Clutter por Perry Smith e Dick Hickcock, e a prisão, o julgamento e a execução de ambos. Além, é claro, dos efeitos do crime na minúscula Holcomb, no Kansas. O texto de Capote é magnético, capaz de fazer o leitor virar uma noite para saber mais, mesmo sabendo tudo.
A resenha completa você pode ler aqui:
Luiz Antonio Simas – Crônicas exusíacas e estilhaços pelintras
Meu autor vivo favorito obviamente não ficaria fora de uma lista como essa. O livro reúne textos do autor carioca no que ele melhor sabe fazer: falar, decifrar e entender as ruas, o carnaval e o encantamento da vida. Como uma gira de experiências, Simas conta causos, histórias e lendas que são fatos, daqueles que a gente pode até duvidar, mas no fundo não consegue não acreditar. A sensação de estar sentado em uma calçada, em uma rua de subúrbio, ouvindo as histórias que formam aquele universo, é real e quase palpável. Magia que se mistura com realidade, como a vida.
A resenha completa você pode ler aqui:
Tanto Tupiassu - Dois mortos e a morte
Um livro de contos espetaculares, com o Brasil correndo nas veias do texto, misturando o sobrenatural e o real para falar sobre como a morte é parte inseparável da vida. Do primeiro ao último conto, Tanto mostra não só seu talento como escritor e contador de histórias, mas também essa forma mística, encantada e particular que só o Brasil tem de entender a morte e seus caminhos.
A resenha completa você pode ler aqui:
Alex Fisher – A máquina do caos
Minha melhor leitura até o momento em 2024, em A Máquina do Caos o jornalista americano Max Fisher mergulha fundo nos efeitos das redes sociais e de seus algoritmos na sociedade, apresentando fatos aterradores sobre como as redes vem afetando o comportamento, a política e a segurança de diversas nações por meio do estímulo ao ódio e à segregação como ferramentas de aumento de engajamento. Livraço, extremamente necessário para enxergarmos os efeitos nocivos das redes sociais.
A resenha completa você pode ler aqui:
Carlos Ruiz Zafón – O Labirinto dos Espíritos
Livro que encerra a quadrilogia da série do Cemitério dos Livros Esquecidos do falecido autor espanhol, O Labirinto dos Espíritos é o típico final com chave de ouro. Encerra mistérios e ciclos, conectando os fios que unem todos os outros livros em cenas emocionantes. Sou suspeito demais para falar sobre essa série porque seus livros sempre me “salvaram”, de diversas maneiras e intensidades. Sempre que posso recomendo A Sombra do Vento para quem quer um livro daqueles que prendem o leitor e entregam tudo que prometem.
A resenha você acompanha por aqui em breve. ;)
Kazuo Ishiguro – Não me abandone jamais
É difícil falar sobre esse livro, ainda não escrevi a resenha, terminei tem um tempo, mas sempre retorno a pensamentos que ele me gerou. Pra mim, muito melhor que Vestígios do dia, o outro livro do autor que li e gostei também. Não me abandone jamais pode ser encarado como um livro distópico, mas a verdade é que a história é sobre as relações humanas. Como enxergamos os outros, os efeitos da desumanização e o que nos faz efetivamente humanos. Grande livro, recomendo a leitura sem que você veja descrições sobre o enredo, fica mais divertido assim.
A resenha você acompanha por aqui em breve. ;)
Menções honrosas:
Consuelo Dieguez – O ovo da Serpente: Baita trabalho que ajuda a explicar Jair Bolsonaro e a subida ao poder da extrema-direita no Brasil.
Ivan Turgueniev – Pais e filhos: Extremamente bem escrito, divertido e atual mesmo mais de 170 anos depois de sua publicação.
É isso! Se você chegou até aqui, muito obrigado por seu tempo, espero que tenha gostado!
É muito difícil superar a qualidade das leituras quando vc inicia o ano lendo nada menos que Ninguém Escreve ao Coronel hahahahaha Excepcional ❤️
Esse do Capote tá na minha lista pelo menos desde o dia 1 da faculdade de jornalismo. Em 2009. Uma hora eu leio haha a vida é uma grande lista de leituras pendentes, afinal. Elas nunca vão acabar (ainda bem).